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OPINIÃO

O Brasil nos obriga a lembrar o óbvio

Um lembrete sobre o fato de a família Bolsonaro ter comprado 51 imóveis em espécie, desde 1990, num total de 13,5 milhões de reais não declarados ao TSE.

Publicada em 31/08/22 às 12:15h - 80 visualizações

Mario Sabino


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 (Foto: Adriano Machado/Crusoé)

A família Bolsonaro é especialista no ramo imobiliário. Os jornalistas Thiago Herdy e Juliana Dal Piva fizeram um levantamento das transações realizadas pelo clã desde 1990 e constataram que os Bolsonaro negociaram 107 imóveis ao longo de 32 anos, dos quais 51 foram pagos “moeda corrente nacional”. Ou seja, em dinheiro em espécie, em bufunfa, arame, grana, gaita, carvão, prata, cascalho. No total, o preço desses 51 imóveis alcança 13,5 milhões de reais — em valores atualizados pelo IPCA, o montante salta para 25,6 milhões de reais. Hoje, o Estadão publicou que as declarações de bens e renda da família Bolsonaro entregues ao Tribunal Superior Eleitoral “mostram que o presidente e seus filhos não têm o costume de guardar dinheiro vivo em casa. De 1998 até as eleições deste ano, apenas o vereador Carlos Bolsonaro informou à Corte ter guardado R$ 20 mil em espécie por ao menos oito anos”.

 

Ontem, ao ser perguntado sobre o assunto, Jair Bolsonaro (foto) subiu nas tamancas, se é que algum dia desceu delas, e respondeu:  “Qual é o problema de comprar com dinheiro vivo algum imóvel, eu não sei o que está escrito na matéria… qual é o problema?  Então, tudo bem. Investiga, meu Deus do céu. Quantos imóveis são? Mais de cem imóveis… quem comprou? Eu? A minha família? Meus filhos já foram investigados. Desde quando eu assumi, quatro anos de pancada em cima do Flávio, do Carlos, Eduardo menos… familiares meus do Vale do Ribeira. Eu tenho cinco irmãos no Vale do Ribeira.”

 

Político é a único profissional nacional que guarda dinheiro vivo, afora traficantes de drogas, contrabandistas e ladrões de bancos. Em 2014, por exemplo, Dilma Rousseff declarou ao TSE que mantinha consigo 152 mil reais em espécie. Para justificar o fato, ela afirmou que “uma parte disso a gente deposita ao longo do ano, em poupança”. Também disse que dava parte do dinheiro para a filha. Longe de mim imaginar que político que mantém bufunfa em espécie participou de algum esquema de lavagem.  Deve ser só por falta de confiança no sistema bancário brasileiro — e talvez isso indique aos demais cidadãos que eles também devem desconfiar e passar a colocar grana embaixo do colchão, mesmo perdendo os juros proporcionados pelas aplicações e vendo a inflação corroer o seu patrimônio.

 

Se o camarada quiser ter uma dinheirama em espécie, ninguém tem nada a ver com isso. E não é da conta de ninguém se ele quiser comprar um bem com moeda corrente. Mas esse dinheiro tem de ter origem legal e ser declarado. Não pode ser fruto de rachadinha e corrupção. E se Lula pode fingir que é inocente, se Jair Bolsonaro pode achar tudo muito normal, se tribunais anulam investigações e sentenças, os crimes continuam a ser crimes do mesmo jeito.

 

O Brasil nos obriga a lembrar o óbvio.




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