Os advogados da ex-deputada federal Flordelis dos Santos de Souza entraram com uma representação na Ordem dos Advogados do Brasil, seccional do Rio de Janeiro (OAB-RJ), contra as advogadas Flávia Fróes e Elker Cristina Oliveira Jorge. A defesa da pastora acusa ambas de tentarem aliciar Flordelis e uma de suas filhas, Marzy Teixeira, para passarem a representá-las em processo criminal no qual são acusadas de envolvimento na morte do pastor Anderson do Carmo. Flávia é advogada do ex-vereador Jairo de Souza Santos Junior, o Dr. Jairinho.
Flordelis e Marzy foram julgadas pelo assassinato em novembro do ano passado. A ex-deputada foi condenada a 50 anos e 18 dias de prisão e a filha, absolvida. O MP ainda recorre da sentença, assim como a defesa da pastora. Na representação, à qual o EXTRA teve acesso, os advogados afirmam que Flávia visitou Flordelis diversas vezes na penitenciária Talavera Bruce, no Complexo de Gericinó, uma delas no dia 2 de novembro, cinco dias antes do julgamento da ex-deputada, com a intenção de passar a defendê-la.
Para comprovar que Flávia esteve na unidade prisional, foi anexada à representação a cópia da folha do livro no qual são registradas as visitas feitas aos presos. No documento, consta que a advogada entrou no atendimento às 14h, mas não foi registrado o horário de término.
Os advogados afirmam que Flordelis relatou a eles que Flávia alegava que “os patronos constituídos no processo não estariam realizando todos os trâmites possíveis para obter a absolvição dos acusados, e que ela poderia oferecer serviços de melhor qualidade”. Procurada pelo EXTRA, Flávia não enviou nenhum posicionamento à reportagem.
Na representação, os advogados narram ainda que não apenas a ex-deputada foi alvo de abordagens, como também sua filha Marzy Teixeira, defendida pelos mesmos profissionais. Eles alegam que uma colega de cela de Marzy no Instituto Penal Santo Expedito, identificada como Fernanda, transmitiu um recado de Flávia e Elker de que ambas desejavam assumir sua defesa e de sua mãe.
Elker chegou a dividir cela com Marzy depois de ser presa, em outubro de 2021, acusada de levar e buscar informações para Marcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP, no presídio. Segundo as investigações, os dados eram usados por ele para continuar no comando da quadrilha mesmo atrás das grades.
Elker e Flávia estiveram em um dos dias de julgamento, fato que também é mencionado no documento. De acordo com os advogados, a presença de ambas causou prejuízos para suas clientes, que precisaram de atendimento médico por crises de ansiedade.
“Tais fatos certamente atrapalharam o regular desenvolvimento de trabalho e o julgamento. Isto é, no momento decisivo na vida das acusadas, ainda tiveram que lidar com assédio moral cometido por tais advogadas, o que é de todo inadmissível em vários aspectos, não apenas ético-profissional”, dizem os advogados na representação.
Os advogados argumentam que Flávia e Elker violaram o artigo 11 do Código de Ética e Disciplina da Ordem dos Advogados do Brasil, que determina que “o advogado não deve aceitar procuração de quem já tem patrono constituído, sem prévio conhecimento deste, salvo por motivo justo ou para adoção de medidas judiciais urgentes e inadiáveis”. Eles alegam, ainda, que ambas violaram o artigo 44 do mesmo código de ética, uma vez que desrespeitaram o trabalho dos colegas. Na representação, os advogados pedem à OAB que seja instaurado processo disciplinar contra Flávia e Elker. Procurada pelo EXTRA, Elker afirmou que desconhece a representação e informou que se manifestará quando for notificada.
– Tanto antes do júri, quanto depois (até hoje), são diversos os advogados que visitam Flordelis para aliciá-la. No entanto, prejudicar a defesa e a cliente na véspera e durante o julgamento viola diversos preceitos éticos e legais e, por isso, merece uma resposta à altura da OAB – afirma o advogado Rodrigo Faucz, um dos oito que fazem parte da banca de defesa de Flordelis.
No fim de 2021, Flávia Fróes se envolveu em outra polêmica, dessa vez no caso Jairinho, que responde pela tortura e morte do menino Henry Borel. Na ocasião, o então advogado do ex-vereador, Braz Sant’Anna, afirmou que apresentaria uma representação disciplinar contra a colega, que segundo ele vinha se apresentando como advogada de Jairinho sem ter procuração para isso.
Flávia também foi acusada por Monique Medeiros, mãe de Henry, de ameaçá-la. Em uma petição para a juíza do caso, Elizabeth Machado Louro, do II Tribunal do Júri, ela disse que tinha recebido uma visita de Flávia no Instituto Penal Oscar Stevenson, em Benfica, Zona Norte. Na ocasião, segundo Monique, Flávia teria a obrigado a assumir a culpa pelos crimes e dito que ela seria transferida ou seria “pega” na cadeia.
Na ocasião, Flávia classificou a petição como “criminosa” e afirmou que o documento estava sendo usado como manobra pelos advogados de Monique para tentar o desmembramento do processo. Ela informou que iria fazer um registro de ocorrência por denunciação caluniosa, já que os fatos narrados “não revelam a verdade sobre a conversa que ela teve” com a professora. A advogada negou as ameaças e disse que sempre defendeu o ex-casal com as informações que “conseguiu angariar ao longo das investigações defensivas”.