O presidente Lula afirma que quer contribuir para a construção de uma nova ordem mundial.
É uma frase dita há tempos por Xi Jinping e Vladimir Putin, cujo eterno ministro das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, repetiu-a ontem no encontro com o chanceler Mauro Vieira. Segundo Lavrov, Rússia e Brasil estão “unidos pelo desejo de contribuir para uma ordem mundial mais democrática e mais policêntrica”.
Os presidentes da Rússia e da China acham que o Ocidente manda demais.
Lula também acha que o Ocidente e os Estados Unidos mandam demais (“Toda noite me pergunto por que todos os países precisam fazer seu comércio lastreado no dólar”), e por isso faz coro com Putin e Xi Jinping.
E para que serviria essa nova ordem mundial?
Certamente para resolver problemas de que a atual não está dando conta. O aquecimento global, por exemplo. A regulação das redes sociais, talvez. Possivelmente também a reforma da ONU, que, de acordo com Lula, “não representa mais nada”.
Ocorre que o presidente brasileiro deveria lembrar que a China, a despeito das declaradas pretensões ambientalistas, continua viciada em carvão — no ano passado, aumentou a mineração e a construção de usinas do minério a ponto de elevar em quase 6% as emissões de gases de efeito estufa.
Da mesma forma, Lula poderia reconhecer que a Rússia não promete dar um bom parceiro na discussão da regulação das redes sociais — basta lembrar como Putin costuma lidar com os que ele considera fazer mal uso delas.
E será mesmo que estaria credenciado a planejar a reforma a ONU um líder que invadiu seu vizinho e jogou a noção de direito internacional pela janela?
O que Lula indica ao ecoar o mantra da “governança multipolar” e “pós-ocidental” é que deseja uma nova ordem mundial aos moldes de Putin e Xi Jinping.
Alguém está servido?
Melhor faria o presidente se, como há tempos sugere o diplomata e ex-ministro Rubens Ricupero, concentrasse seus esforços diplomáticos na questão ambiental, onde, aí, sim, tem reconhecido cacife e plateia garantida. Pode não render um Nobel, mas seguramente evitaria vexames.